quinta-feira, dezembro 06, 2018

Rock In Rio tem rock e Springsteen

A cada dois anos é sempre a mesma história. Uma gritaria toma conta do universo da música quando os primeiros nomes escalados para mais uma edição do Rock In Rio são divulgados.

A "confusão" com o nome do festival acontece desde a primeira edição, em 1985, quando Elba Ramalho, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso e James Taylor estavam entre as atrações.

Em 1991, realizado no estádio do Maracanã, a presença de New Kids On The Block, Dee-Lite e Information Society não é exatamente o que podemos chamar de um show de rock.

Mas é preciso entender que o nome é apenas um nome. A produção do festival tenta sempre "acertar" na escalação dos músicos. A construção de um dia de festival traz muitos desafios.

Mas no decorrer dos anos, fica claro que a intenção é ter sempre uma noite de metal e uma noite pop. O que pode ser questionado é se os artistas escalados são os ideais.

Roberto Medina, idealizador do festival, disse várias vezes que o evento não é só de rock. Em sete edições realizadas no Rio, o festival conseguiu mesclar bem grandes nomes do rock e do pop. Medina merece todo crédito. Primeiro foi dele a ideia. Isso ninguém pode negar. Imaginar um festival do tamanho que foi a primeira edição, era impensável, ainda mais naquela época.

O Rock In Rio de 1985 tem, até hoje, a melhor escalação. Trazer para um mesmo festival Queen, Yes, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, AC/DC, Whitesnake, Scorpions e Rod Stewart não é pouca coisa. Destes nomes, apenas o Queen já tinha tocado no país, em 1981, no estádio do Morumbi, em SP. Até hoje, esses artistas continuam voltando ao país.


Iron Maiden toca na primeira noite do festival, antes do show do Queen, em 1985

O mesmo aconteceu em 1991. Na ocasião, a banda mais esperada era o Guns N' Roses. O grupo veio ao país às véspera do lançamento dos aguardados álbuns Use Your Illusion I & II. Foi a estreia do grupo no país. No auge do sucesso, eles não decepcionou e fizeram um grande show.

Além do Guns, a segunda edição do festival trouxe Prince, George Michael, Inxs, Billy Idol e Judas Priest, todos pela primeira vez. Vale dizer que Prince e George Michael nunca mais voltaram ao Brasil e, é claro, nunca mais voltarão.

O guitarrista Santana, veterano que tocou em Woodstock, também se apresentou. É claro que os "protetores" do rock bradaram ao ver na escalação nomes como A-ha, Information Society e Elba Ramalho. Por outro lado, a edição trouxe a estreia do Sepultura no festival. Desde então, o grupo brasileiro participou de todas as edições.


Guns N' Roses faz show histórico na segunda edição do festival, em 1991, no Maracanã

Dez anos depois, em, 2001, agora na nova Cidade do Rock, o festival trouxe como grandes destaques os grupos R.E.M, Oasis, Foo Fighters e o veterano Neil Young. Apenas o Oasis já tinha tocado no país.

A edição ainda trouxe a cantora Britney Spears, o cantor Sting, pela primeira vez no Rock In Rio, e os grupos Iron Maiden e Guns N'Roses, que desta vez só tinha o cantor Axl Rose da formação original. Mais uma vez, muita gritaria aconteceu com a presença da princesinha do pop Britney Spears, além de Carlinhos Brown (talvez o maior erro de todas as edições) e Daniela Mercury.

A partir de 2011, Medina estipulou que a cada dois anos uma nova edição do festival aconteceria no Rio. E é isso que acontece desde então. Em 2011 a bronca foi a escalação de Claudia Leite e Ivete Sangalo em um festival "de rock". A edição, talvez a mais pop de todas, ainda contou com Rihanna, Katy Perry, Shakira e Elton John.

Do lado do rock, nomes de peso como Metallica; Coldplay, Evanescence, Guns N' Roses e System of a Down garantiram o peso no festival. 2011 foi a estreia do Metallica no festival. O grupo voltaria a tocar no Rock In Rio em 2013 e 2015.


Kirk Hammett (esq) e James Hetfield (dir), do Metallica, estreiam no festival em 2011

Em 2013, quem brilhou foi Bruce Springsteen e a cantora Beyoncé. Os defensores do rock, mais uma vez, não ficaram muito satisfeitos. Além de Bruce e Bon Jovi, que não são rock pesado, Iron Maiden, Slayer, Metallica e Sepultura participaram desta edição. Outros destaques foram o trio Muse e o cantor John Mayer, com seu rock bluseiro.

No ano em que completou 30 anos, em 2015, o festival manteve sua fórmula de misturar rock pesado com artistas mais pops. Desta vez, coube a System of a Down, Slipknot e Metallica assumirem o papel de protagonistas do metal. A edição ainda trouxe Faith No More, Korn e Queens of the Stone Age e Motley Crue.


Slipknot levantou a plateia e fez um dos shows mais pesados do Rock In Rio 2015

Queen + Adam Lambert e Rod Stewart fizeram o revival ficar mais evidente. Ambos tocaram na primeira edição do festival. A diferença é que desta vez, no lugar de Freddie Mercury, o Queen trazia o cantor Adam Lambert, que não fez feio, mas uma covardia se comparado ao maior cantor de rock de todos os tempo, o sr. Mercury.

Na parte pop, os destaques foram o veterano Elton John, as cantoras Rihanna e Katy Perry, o cantor Seal e o grupo A-Ha.

A edição de 2017, com exceção da primeira, foi sem dúvida a mais bem equilibrada. A escalação dos veteranos Aerosmith e The Who, que tocou pela primeira vez na América Latina, foi um tiro certeiro de Medina.

Quem também "defendeu" o rock foi o Guns N' Roses, desta vez com Axl, Slash (guitarra) e Duff McKagan (baixo), Bon Jovi, sem Richie Sambora na guitarra e com Jon Bon Jovi com a voz muito aquém de seus melhores dias, Red Hot Chili Peppers, que fez um show sem falhas, o Def Leppard, que tinha sido escalado para a primeira edição, em 1985, e acabou sendo substituído pelo Whitesnake, e o Offspring, que dois anos antes arrepiou o palco Sunset e agora foi promovido ao palco Mundo. Do lado pop, 2017 teve boas atrações como Marron 5, Justin Timberlake, Alicia Keys, Fergie e os veteranos do Tears For Fears e Pet Shop Boys.


Com 5 décadas de carreira, The Who toca pela primeira vez no América Latina, em 2017

Para 2019, a produção do festival já confirmou as presenças da cantora Pink, que vem ao país pela primeira vez, do grupo Black Eyes Peas e mais uma volta no tempo com Os Paralamas do Sucesso, Scorpions e Iron Maiden, todos eles presentes na primeira edição, em 1985.

O rock tem seu espaço garantindo com Imagine Dragons, Megadeth, Sepultura, Slayer e Anthrax. A grande pisada na bola, pelo menos aos olhos de quem sustenta a ideia de que o festival deve ter apenas rock, é a presença da cantora Anita, ainda mais no palco principal. Novos nomes ainda serão divulgados. O festival acontecerá nos dias 27, 28 e 29 de setembro e 3, 4, 5 e 6 de outubro.

BRUCE ESTREIA NO ROCK IN RIO

Em 2013, após ter tocado na versão portuguesa do festival, em 2012, Bruce Springsteen finalmente estreia no Rock In Rio. Por anos, Roberto Medina tentava atrair Bruce para o seu festival. Mas Springsteen sempre foi arredio a participar de festivais. As coisas começaram a mudar após sua participação no festival Inglês de Glastonbury, em 2009.

Medina percebeu esta mudança e partiu para uma ofensiva "definitiva" para ter Bruce no festival. O sonho começou a virar realidade em 2012, quando Bruce tocou no Rock In Rio Lisboa, em 2012, após 19 anos sem tocar em terras portuguesas. Após a participação do cantor em Lisboa, ficou evidente que a vinda de Bruce ao Brasil, após 25 anos, era iminente.


Bruce toca pela primeira vez no Rock In Rio, após 25 sem tocar no Brasil

E foi o que aconteceu, em 21 de setembro de 2013, após os shows de Skank, Phillip Phillips e John Mayer, Bruce estreia no festival e pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro. Para a surpresa do público carioca, o cantor inicia o show com uma versão cantada em português da música "Sociedade Alternativa", de Raul Seixas.

Por mais de duas horas, ele desfilou grandes clássicos da sua carreira, entre eles "Born To Run", "Thunder Road" e "Badlands". Ao todo foram 26 músicas, entre elas, o disco Born In The USA tocado na íntegra e na mesma ordem do álbum.

A passagem de Bruce no Rock In Rio surpreendeu a todos. Às vésperas de completar 63 anos, o cantor comprovou sua fama de roqueiro incansável e inspirado.

Uma semana antes de desembarcar no país para dois shows, o primeiro foi no dia 18, na capital paulista, a revista Rolling Stone, edição brasileira (foto ao lado), colocou em sua capa uma foto de Bruce no meio da plateia com a seguinte manchete: "O Maior Show da Atualidade".

Em 2016, Bruce repetiu a dose e voltou a tocar no Rock In Rio Lisboa. Na ocasião, ele estava fazendo a The River Tour. Infelizmente, o Brasil não teve a mesma sorte e ainda espera uma nova visita do cantor. Em 2014, Bruce fez uma participação especial no show dos Rolling Stones no Rock In Rio Lisboa, cantando "Tumbling Dice", do disco Exile On Main St., de 1972.





quinta-feira, novembro 22, 2018

Live Aid: o maior concerto de rock sem Bruce

Como teria sido a apresentação de Bruce Springsteen no Live Aid? Muitos fãs do cantor questionam a não participação de Bruce no mais importante concerto de rock da história.

Em 13 de julho de 1985, no estádio de Wembley, em Londres, e no estádio John F. Kennedy, na Filadélfia (EUA), dezenas de músicos se revezaram nos dois palcos, simultaneamente, para angariar dinheiro para ajudar os famintos da Etiópia.

Diante de um chamado como este, a maioria dos astros da música da época se prontificaram a ajudar. Na ocasião, Michael Jackson, Bruce Springsteen, Prince, Phil Collins, Lionel Richie, Sting, Stevie Wonder, Cyndi Lauper, Madonna, Tina Turner, Duran Duran, Queen e Dire Straits reinavam absolutos nas paradas das revistas Billboard e Rolling Stone e na MTV.

As ausências mais sentidas foram Prince, Michael Jackson, Bruce Springsteen e Stevie Wonder. Anos depois, muito se falou sobre a participação de artistas negros nos shows. Agora, 30 anos depois, é possível perceber com clareza que os músicos negros foram preteridos. Mas isso nunca foi comprovado e houve diferentes motivos para que isso tenha acontecido.


Bruce corre no palco durante show em Wembley, em 4 de julho de 1985

Sobre Bruce, desde o início, o idealizador do Live Aid, o músico Bob Geldof, tentou atrair o cantor para o concerto. Na época, Bruce já tinha um histórico de shows e ações filantrópicas e políticas nos Estados Unidos.

As duas iniciativas mais conhecidas foram as participações no show No Nukes, em 1979, contra a energia nuclear, e no projeto USA For África, de 1985, com Bruce e outros astros da música cantando "We Are The World (WATW)". No dia da gravação de WATW, Gedolf esteve no estúdio para falar sobre as condições desumanas de vida no continente africano.


Bruce diante da multidão que lotou o estádio de Wembley.

No filme When Harvey Met Bob, que conta a história dos bastidores do Live Aid, com foco na relação conflituosa entre Geldof e do promoter musical Harvey Goldsmith, é possível ver a "obsessão" que Geldof tinha em ter a presença de Bruce no concerto. Mas o empresário de Bruce, Jon Landau, na época, disse que o cantor não participaria porque estava cansado depois de uma longa turnê.

Na ocasião, Bruce estava no meio da turnê do disco Born In The USA, que tinha começado em 29 de junho de 1984 e tinha acabado de fazer uma pausa em 7 de julho de 1985, apos 4 shows na Inglaterra, três deles no estádio de Wembley (3, 4 e 6 de julho) e outro no Roundhay Park, na cidade de Leeds, no norte da Inglaterra. A turnê seria retomada no dia 5 de agosto, em Washington (EUA).

Landau afirmou ainda que entre os dias 10 e 24 de julho, Bruce e os músicos da The E Street Band estariam de folga, e que só retomariam os ensaios para a continuação da turnê no último fim de semana de julho.


Bruce tocou em Wembley nos dias 3, 4 e 6 de julho de 1985

Por uma coincidência do destino, Bruce foi exatamente o último artista a se apresentar em Wembley antes do Live Aid. No auge da fama, Springsteen lotou por três dias o mais famoso estádio londrino. Relatos dizem que apesar de não ter participado do Live Aid, Bruce doou equipamentos para o concerto idealizado por Geldof.

A ausência de Bruce no auge da fama em um concerto histórico não pode ser desfeita. Bruce nunca vai dizer que se arrependeu de não ter participado do show. Mas após tantos anos, ainda é difícil acreditar que o músico mais popular do planeta em 1985, ao lado de Prince, não pisou naquele palco e fez história assim como fizeram Queen e o U2, considerado os shows mais impactantes do Live Aid.

Um exercício interessante para o fã de Springsteen fazer é pensar qual teria sido o repertório escolhido para tocar naquele dia 13 de julho. Vale lembrar que cada artista tinha no máximo 20 minutos para se apresentar.

Outro fato que não deve ser esquecido é que em 1985, Bruce tinha em seu catálogo os seguintes discos: Greetings from Asbury Park, N.J., The Wild, the Innocent and the E Street Shuffle, Born to Run, Darkness on the Edge of Town, The River, Nebraska e Born in the U.S.A..

A apresentação de Bruce no Live Aid provavelmente seria acústica, já que reunir a The E Street Band para esse show relâmpago seria muito difícil. A presença de Bruce no concerto, mesmo sem a companhia de sua banda, teria sido impactante da mesma forma.

Então, pense em um setlist de no máximo 20 minutos e com apenas Bruce tocando violão e gaita. E não esqueça do contexto beneficente do show. E uma última "regra". Não vale incluir cover, tem que ser apenas composições próprias.

O meu setlist ideal é o seguinte:

Born To Run
No Surrender
Badlands
Hungry Heart
Thunder Road


Veja abaixo imagens gravadas por um fã, direto da arquibancada, do show do cantor no dia 4 de julho de 1985, em Wembley.