sexta-feira, novembro 10, 2017

Bruce On Broadway

Bruce Springsteen mais uma vez deixa claro que não é uma lenda da música por acaso. Ao anunciar uma série de shows no Broadway, em um teatro para 960 espectadores, ele se expõe como artista, como pai de família, como marido, enfim, como um ser humano como todos nós.

Por cinco meses, até o dia 3 de fevereiro de 2018, de segunda a sexta, Bruce pode ser encontrado, no período noturno, no Walter Kerr Theatre, na cidade de Nova York.

Em entrevista ao jornal The New York Times, Bruce brincou que essa será a primeira vez na vida que terá um "emprego" com horário fixo.

Os ingressos para essa temporada têm sido disputados pela internet como se fosse um Santo Graal.

A possibilidade de ver o músico em um ambiente fechado e com uma plateia reduzida, além do charme que a Broadway proporciona a qualquer show, é uma oportunidade rara.

No decorrer de 40 anos de carreira, essa não é a primeira vez que o músico investe em um show solo. Isso aconteceu durante as turnês dos discos Ghost of Tom Joad e Devils & Dust. Na ocasião, os shows aconteceram em teatros com capacidade média de 3 mil lugares.

O show da Broadway lembra bastante a apresentação que Bruce fez no programa VH1 Storytellers, em 2005, no qual ele estava igualmente sozinho no palco, ora com o violão em punho ora no piano, e falava sobre suas composições e suas inspirações.


Ao The New York Times, refletindo sobre essa temporada na Broadway, Bruce disse que o público quer duas coisas. "Eles querem se sentir em casa e serem surpreendidos. E é isso que eu faço todas as vezes. Eu tento fazer com que a pessoa sinta que veio a um lugar que ele conhece a muito tempo. Então, eu tento surpreendê-los com novas histórias, novas formas, novas energias ou apenas um novo caminho para fazer alguma coisa".

Na foto ao lado, a cantora e mulher Patti Scialfa participa da apresentação. Patti faz duetos nas músicas "Tougher Than The Rest" e "Brilliant Disguise", ambas do disco Tunnel Of Love, de 1987.

Além da experiência única de poder ver Bruce tão intimamente, os shows da Broadway também são uma oportunidade de ouvir da boca do músico histórias sobre sua vida e sobre suas canções. Entre uma música e outra, Bruce, em formato de monólogo, "conversa com a plateia" e se despe ainda mais diante de uma plateia naturalmente entregue ao momento histórico no qual está vivendo.


Em seu artigo para o jornal Folha de S.Paulo, publicado em 17 de outubro, o escritor português João Pereira Coutinho conseguiu traduzir bem o sentimento de quem teve a sorte de poder assistir por duas horas Bruce na Broadway:

"Esse show ficará na galeria dos momentos épicos: em quase duas horas de conversa e música, não revisitamos apenas a vida de Bruce Springsteen. Pela sua voz, revisitamos os Estados Unidos — as suas paisagens grandiosas ou desoladas; as suas vitórias ou trágicas derrotas; a sua gente, as suas paixões, as suas ilusões. E, como acontece na grande arte, somos capazes de revisitar também as nossas próprias vidas, igualmente feitas de nostalgia infantil, amargura familiar, desejo de fuga e esquecimento. Mas também de sonho, de promessa, de liberdade. E de uma vontade estranha de regressar a casa e, como diria o poeta, conhecer o lugar como se fosse a primeira vez."

As palavras de Coutinho expressam o sentimentos de muitos fãs do cantor. Ao longo de quatro décadas, o público que o acompanha tem um vínculo que transcende a questão artística. A relação com um compositor que consegue manter seus pés no chão após tantos anos, que se expõe da maneira como ele se expõe, é quase um pacto de sangue, uma religião que ajuda você a continuar a viver, mesmo quando tudo parece não ter solução.







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