segunda-feira, junho 17, 2019

Western Stars: Bruce na versão cowboy

Não é de hoje que os fãs mais assíduos do cantor escutam falar sobre o lançamento de dois discos que sempre estiveram na mente de Springsteen.

O primeiro é a versão elétrica do disco Nebraska. Esse é um desejo antigo dos fãs e algo que Bruce nunca negou, mas também nunca garantiu que um dia seria realidade.

O segundo álbum que sempre pairou sobre a mente inquieta de Bruce é um disco totalmente dedicado ao country.

Apesar do cantor ter uma formação mais industrial, ou seja, uma realidade do trabalhador de chão de fábrica, Bruce cresceu em uma América com Hank Williams, Johnny Cash, Glen Campbell, Willie Nelson, George Jones, Kris Kristofferson, Kenny Rogers, entre outros, onipresentes no cenário musical ao lado de Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry e Little Richards.

Depois de quase cinco décadas de carreira, o tal álbum country finalmente chega às mãos de seus fãs. É claro que seria um risco cravar que o recém-lançado Western Stars é um disco de música country, mas ele é, sem dúvida, o que mais se aproxima de um. Em sua discografia, Bruce flertou com outros ritmos, em especial o folk, com os discos Nebraska, The Ghost of Tom Joad, Devils & Dust e We Shall Overcome.

Mas a redenção do cantor ao gênero country precisou esperar todo esse tempo. Afinal, Bruce é um cara bem ocupado, não é mesmo? O disco, como já foi dito em dezenas de resenhas nos quatro cantos do planeta, tem uma unidade, ou seja, as músicas têm uma narrativa que se completam e se sobrepõem.

A atmosfera é a estrada e o que ela traz em seu caminho. As fotos do encarte do disco também ajudam a criar o cenário ideal para as canções de Springsteen, além do belo clipe do primeiro singles disco "Hello Sunshine", no qual um carro "sem condutor" dirigi em um uma estrada árida, sem sinal de vida e sem destino.

A música country permeia o disco todo. Ela está lá, mas ao mesmo tempo não está. Mas as letras levam o ouvinte novamente para uma região árida e, muitas vezes, desafiadora. Para quem não entende inglês, o disco perde bastante o seu impacto. Essa também é a melhor explicação para que o cantor nunca tenha emplacado no Brasil depois do estrondoso sucesso de Born in the U.S.A.

O disco começa com "Hitch Hikin" (Pegando Carona) e já na sequência vem "The Wayfarer" (O Viajante). Já na segunda faixa, a orquestração tem um papel fundamental na sonoridade do álbum. Por todo o disco, os metais e as cordas estão lado a lado da guitarra de Springsteen. Em "Tucson Train", o country pop está muito claro. É uma daquelas músicas que você ficará assobiando a qualquer hora do dia e que sempre fará bem para a sua alma.

A faixa título tem a guitarra steel de fundo e uma afinação que lembra canções de Roy Orbinson. Um dos maiores ídolos de Springsteen, Orbinson está explícito na canção "There Goes My Miracle", uma das músicas mais belas do disco.

Assim como "Miracle", "Hello Sunshine" tem um toque de nostalgia, desilusão e redenção, tudo ao mesmo tempo agora. O solitário Bruce continua clamando por companhia na deliciosa "Sundown", canção que poderia facilmente ter sido gravada em um álbum com a The E Street Band. A guitarra steel volta a brilhar em "Chasin' Wild Horses", com o acompanhamento orquestral chegando ao seu ápice. A doçura da melodia chega a arrepiar os ouvintes mais desavisados.


Cena do clipe da música "Tucson Train", gravado em preto e branco


A nostalgia volta a tocar fundo na quase acústica "MoonLight Motel", com Bruce descrevendo um local esmo e abandonado pelo tempo e pela lembrança de um momento que não volta mais. O mesmo clima aparece com "Stones", que na realidade deveria se chamar "Those Are Only the Lies You've Told Me". O violino e a guitarra crua deixam a música ainda mais forte e contundente.

Já em "Drive Fast (The Stuntman)", o arranjo fica meio cansativo junto com a voz de desalento que a música pede. Dúvida e introspeção também regem a balada "Somewhete North of Nashiville". Felizmente, o disco não é apenas desilusão ou estradas empoeiradas e solitárias. Especificamente "na estrada que atravessa a linha de San Bernardino, onde caminhoneiros e os ciclistas se reúnem todas as noites" há o "Sleepy Joe's Café", uma canção que tem a cara de bandas que tocam em bares à beira das estradas norte-americanas.


Bruce encarna um cowboy em foto do encarte de seu 19° disco


No frigir dos ovos, o disco é mais um capítulo importante na carreira de Bruce e desde já um forte candidato a faturar um Grammy, prêmio que o cantor não recebe desde 2009, com o disco Working On A Dream. A escolha por um repertório mais difícil e arranjos com orquestra não chega a estranhar diante de um artista tão eclético e talentoso. Mas é claro que o Bruce roqueiro ainda é a persona mais importante e procurada pela maioria dos seus fãs.

Mas Bruce sempre soube administrar seus dois "eus" muito bem, mesclando discos mais roqueiros com álbuns mais acústicos e profundos. E assim será novamente. Ele já anunciou para 2020 o lançamento de um novo álbum com a The E Street Band e uma turnê que certamente passará pela Europa e Estados Unidos. Nesse meio tempo, especula-se sobre uma caixa para comemorar os 35 anos do disco Born in the U.S.A. e uma outra caixa nos moldes do box Tracks, de 1998, com restos de estúdios.





























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