terça-feira, agosto 31, 2021

Novelas x Springsteen

Tudo começou lá na década de 1950, quando as primeiras novelas apareceram na TV brasileira. Época em que Tupi e Excelsior dividiam a atenção dos telespectadores. Os anos foram passando e a Rede Globo assumiu o protagonismo no início da década de 1970. De lá para cá, a hegemonia da Globo só cresceu e apenas agora, com a popularização da TV a cabo e, mas recentemente, com os serviços de streaming, é que o poder das novelas perdeu um pouco sua força.

Mas nas décadas de 1980, 1990 e 2000, as novelas da Globo tinham a capacidade de captar audiências que passavam de 40% dos televisores ligados no país, o que tornou a emissora uma mina de ouro financeiramente e cobiçada por comunicadores, atores, atrizes, diretores e músicos. O espaço alcançado pela emissora carioca tinha o poder de alavancar a carreira de quem participasse de seus programas e novelas.

Na música, a grande jogada era conquistar espaço em uma das três novelas que passavam na emissora, em especial a do horário nobre, que foi por muitos anos chamada de novela das oito e depois virou a novela das nove. Ter uma música como tema de personagens importantes na trama é garantia de ouvir sua composição ser tocada e escutada dezenas de vezes por vários meses. E se a música for escolhida para abrir a novela, ai é como ganhar na loteria.

Clipe de "Dancing in the Dark", única música do cantor em uma trilha de novela


Para fazer parte da trilha sonora de uma novela, há vários critérios e muita bajulação por parte das gravadoras, que tentam emplacar seus artistas. O braço fonográfico da Globo, a Som Livre, tinha o costume de lançar dois discos com músicas que tocam durante os seis meses (em média) de duração da trama. Um disco com canções nacionais e outros apenas com temas internacionais.

Ao analisarmos as trilhas das décadas de 1980, 1990 e 2000, percebemos que as canções mais populares, em especial as lentas, são de longe as preferidas de quem escolhe as músicas. Entre os artistas internacionais que mais aparecem nas trilhas durante esse período estão as cantoras Tina Turner, Carly Simon, Whitney Houston e Sade. Entre os cantores, os onipresentes são George Michael, Joe Cocker, Phil Collins, Rod Stewart, Bryan Adams e Michael Bolton.

O rock nunca teve muito espaço nas trilhas da Globo. A justificativa talvez seja a predileção por músicas mais suaves e "fáceis" de serem ouvidas. Diante deste perfil, os roqueiros que mais se destacaram são: Genesis, Bon Jovi, Dire Straits, Prince, Inxs e Lenny Kravitz. Também são figuras fáceis por aqui artistas pops como Simply Red, Pretenders, Roxette, Daryl Hall & John Oates, Eurythmics e Madonna.

BRUCE E LITTLE STEVEN

Como já foi dito no início desse texto, emplacar uma música em uma novela é sempre um ótimo negócio para um artista. Mas neste quesito, Bruce Springsteen nunca conseguiu se destacar. Apesar de uma carreira sólida e longeva, o cantor conseguiu colocar apenas uma música em uma novela da Globo, e ainda foi no horário das 18h, que tem estatisticamente a pior audiência entre as três que figuram na programação da emissora.

A música escolhida foi "Dancing in the Dark", do disco Born in the U.S.A., que será para sempre o disco mais popular do cantor. A canção fez parte da novela Amor com Amor se Paga (1984), da novelista Ivani Ribeiro. A trilha também trazia músicas de Cyndi Lauper (Time After Time), Steve Perry (Oh, Sherrie), Jocelyn Brown (Somebody Else's Guy), entre outros. Bruce também está "presente", indiretamente, na trilha de Vale Tudo (1988), uma das novelas do horário nobre mais bem sucedidas da Globo. Aqui, Springsteen aparece na voz de Natalie Cole, que interpreta "Pink Cadillac", sucesso na voz da cantora no fim da década de 1980.
Clipe de "Bitter Fruit", música de Little Steven na novela Mandala (1987)


Infelizmente essa falta de "empatia" com as novelas deixou a música de Springsteen ainda mais afastada do público brasileiro. A questão é saber se foi uma questão mercadológica, ou seja, a gravadora do cantor não tinha interesse em oferecer suas músicas, ou se a produção da Rede Globo é que não gostava ou encontrava uma música que se encaixasse à trama. E olha que não faltou música "lenta" do Bruce para incluir na trilha. Que tal “Tougher Than the Rest”, “If I Should Fall Behind” ou “Secret Garden”? Enfim, o tempo passou e agora as novelas são muito menos relevantes.

Vale aqui o registro da inclusão de música "Bitter Fruit", de Little Steven, nome adotado pelo guitarrista Stevie Van Zandt após deixar a The E Street Band, em 1984. A canção fez parte da trilha da novela Mandala (1987), de Dias Gomes. A trilha também trazia músicas de Bon Jovi (Never Say Goodbye), U2 (With or Without You), Suzanne Vega (Luka), Duran Duran (A Matter of Feeling), entre outras.

ROCK AND ROLL

Para quem acha que só vai encontra música "charopadas", ou seja, água com açúcar, fica aqui quatro exceções que merecem ser destacadas. A mais impressionante de todas é a inclusão da música "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin, na trilha da novela Top Model (1989). Mas a música no disco é uma versão reduzida.

Outro ponto fora da curva é "Give It Away", do Red Hot Chilli Peppers, na trilha de Perigosas Peruas (1992). O Queen também aparece uma única vez, com "We Will Rock You", da novela Rock Story (2016). Para fechar, não exatamente com um rock pesado, mas a inclusão de "Sweet Child O'Mine", do Guns N' Roses, na trilha de O Sexo dos Anjos (1989), é mais uma prova de que Axl Rose e companhia conseguiram conquistar um público bem abrangente.

MICHAEL JACKSON

É interessante também constatar que em mais de 150 trilhas sonoras internacionais, não há sequer uma única canção do cantor Michael Jackson da sua fase produzida por Quincy Jones, que vai de 1978 até 1991 e abrange os principais discos de sua carreira: The Wall, Thriller, Bad e Dangerous. O que encontramos são canções com o Jackson 5 ou gravações solos feitas no início da década de 1970.

Na década de 1980, ninguém foi mais popular que ele. Então seria razoável imaginar que sua música seria escolhida, assim como aconteceu com todos os grandes nomes desta década, entre eles, Madonna, Prince, Bruce Springsteen, Phil Collins, Lionel Richie, Cyndi Lauper, Bryan Adams, Dire Straits e Rod Stewart.













terça-feira, agosto 24, 2021

Bruce Cobretti Springsteen

Não poderia ter sido mais emblemática esta bela fusão entre o personagem Marion Cobretti, interpretado por Sylvester Stallone, do filme Cobra (1986), e o velho Bruce com o seu óculos Ray-ban.

Ambos, Bruce e Stallone, são ícones da cultura pop norte-americana da década de 1980. Hoje, 40 anos depois, eles continuam por ai, sem causar o mesmo impacto, é verdade, mas ainda queridos por uma grande parcela de fãs que os acompanham há muitos e muitos anos.

A trilha do filme traz a emblemática "Voice Of America's Sons" interpretada por John Cafferty & The Beaver Brown Band. Outro destaque da trilha é o tema "Angel Of The City", cantada por Robert Tepper. Coincidência ou não, esses dois intérpretes (Cafferty e Tepper) também estão na trilha sonora do filme Rocky 4 (1985), estrelado por Stallone e Dolph Lundgren.

Outro tema que merece o registro é a música "Feel the Heat", do cantor Jean Beauvoir. Nascido nos EUA, mas de origem haitiana, Beauvoir também é produtor, compositor e guitarrista. No início da década de 1980, ele fez parte do grupo Little Steven & the Disciples of Soul, banda criada pelo guitarrista Stevie Van Zandt após deixar Bruce Springsteen e a The E Street Band, na qual tocou por uma década. Beauvoir tocou nos dois primeiros discos de Little Steven (Men Without Women e Voice of America). Antes de se juntar aos Disciples of Soul, ele tocou na banda punk The Plasmatics.

Bruce Springsteen travestido de Marion Cobretti, protagonista do filme Cobra

Poster oficial do filme estrelado por Stallone

Bruce usando Ray-ban, óculos icônico e muito popular na década de 1970