Neste mesmo ano, em janeiro, Bruce foi um dos destaques da música "We Are the
World", que reuniu grandes estrelas da música norte-americana, entre eles,
Michael Jackson, Lionel Richie, Tina Turner, Ray Charles, Bob Dylan e Billie
Joel.
O nascimento da revista Bizz também é fruto do bem sucedido festival Rock in
Rio, que aconteceu em janeiro de 1985. Pela primeira vez, o Brasil abrigou um
mega festival de música.
Idealizado pelo publicitário Roberto Medina, o Rock
in Rio teve entre suas atrações Iron Maiden, AC/DC, Ozzy Osbourne, Scorpions,
Whitesnake, Yes, James Taylor, B-52's (todos pela primeira vez tocando no
país), além do grupo Queen, que tinha tocado em São Paulo, em março de 1981,
no estádio do Morumbi.
Bruce estampou três vezes na capa da Bizz. Mas só no número 1 é que ele estava
sozinho. Nas outras duas edições, ele divide a capa com a cantora Madonna
(edição 7) e na outra (edição 38), divide com o Engenheiros do Hawai e o trio
Run DMC. A primeira fase da revista Bizz teve 192 edições.
Depois de alguns
anos fora de circulação, uma nova tentativa de colocar a revista nas bancas
foi tentada, mas não funcionou e a revista foi definitivamente
descontinuada. Abaixo está as fotos das quatro páginas da matéria publicana na edição de
estreia da revista Bizz, além do texto na íntegra para ler. Você também pode
ver a primeira edição na íntegra deste exemplar clicando aqui.
Leia abaixo a íntegra da matéria sobre o cantor na edição 1 da revista Bizz:
PARA OS FÃS ELE É BRUUUCE!
1974 - Ao que tudo indica, o rock estava morrendo. e rápido. A rebeldia, a
fúria e o fogo do rock - a sua própria essência - haviam sucumbido a um vírus
de complacência, cinismo e esnobismo que contaminara seus pais fundadores. Já
não era mais possível haver qualquer identificação entre a garotada e a musica
e vida de artistas mais ocupados com suas contas bancarias e suas garrafas de
champanhe do que com a emoção e a forca de um simples acorde de blues.
Os Rolling Stones e Rod Stewart preferiam frequentar as colunas sociais a
aparecer nas revistas de música. Princesas e famosos herdeiros de grandes
corporações eram elevados à esdrúxula categoria de tietes de luxo. O rock
daquele tempo era um triste circo de exibicionistas, um interminável desfile
de limusines, jatos e starlets. Podia ser tudo, menos aquilo a que o rock se
propusera no passado: libertação, juventude e esperança.
Não havia mais futuro. Na primavera de 74, o crítico norte-americano Jon
Landau remoía dolorosamente estes sentimentos de desilusão com o rock. E o
fato daquele 9 de maio marcar seu 27: aniversário não melhorava em nada a
situação. Landau sentia-se velho e traído. Mesmo assim, juntou suas forças e
arrastou-se para o Harvard Square Theatre, em Boston, certo de que lá também
acabaria achando mais alimento para sua amargura. Mal sabia que naquela noite
teria uma Revelação.
No palco do teatro, a E Street Band, um grupo desconhecido do tão demodê
estado de Nova Jérsei, parecia especialmente determinada a fazer Landau
engolir sua própria desilusão. Lá estava a música que Jon aprendera a amar,
devolvida ao público com uma vingança - era musculosa, explosiva, intensa e
sincera. Lá estava, de novo, o rock and roll; ou melhor, toda a história dc
rock, rugindo na voz do líder da E Street Band. um cara franzino e elétrico de
nome Bruce Springsteen.
Bruce é o principal destaque da primeira edição da revista Bizz |
Landau saiu do teatro com a certeza de ter vivido uma anunciação divina e
sumarizou estes sentimentos na sua coluna de despedida do jornal Real Paper:
Eu vi o futuro do rock. Seu nome é Bruce Springsteen". Graças a Landau, do dia
para a noite Bruce passou de ´o segredo mais bem guardado da costa leste
americana" a celebridade nacional.
Capa das revistas Time e Newsweek na mesma semana e preferido da crítica por
causa do álbum Born to Run - produzido por Landau, que mais tarde também
viraria seu empresário - Bruce começou a ser citado nas revistas
especializadas com a mesma reverência dedicada a artistas como Bob Dylan e
John Lennon. Muita gente, contudo, torceu o nariz para a repentina ascensão de
Bruce ao panteão do rock. Os grandes culpados por esta reação negativa foram a
própria gravadora de Bruce a CBS - e indiretamente, Jon Landau. A frase sobre
´o futuro do rock" foi transformada em campanha promocional de Born to Run e
Bruce passou a ser anunciado como o novo Bob Dylan".
Para se enxergar o real significado de Springsteen por detrás dessa grossa
muralha de exagero e desinformação foi preciso muito pouco, na verdade. Bastou
que Bruce caísse na estrada e iniciasse uma série de álbuns clássicos para que
se transformasse no melhor espécime-rock que a América tinha a oferecer. E o
seu mais verdadeiro. Desde então os shows de Bruce e a E Street Band são
maratonas de quatro horas de duração - às vezes, mais - que começam e terminam
sob coros ardorosos de BRUUUUUUUUUUCE!
Ao vivo, Springsteen e banda tocam com tamanha intensidade que cada show
parece o último de sua vida. E uma usina poderosíssima que atravessou os anos
praticamente intacta: o baterista Max Weinberg. o pianista Roy Bittan. o
haixista Garry Talent. o tecladista Danny Federici. o saxotonista Clarence
Clemons e. a nova aquisição. o guitarrista Nils Lofgren que entrou no lugar do
veterano Steve Van Zandt. Em disco. Bruce Springsteen e uma verdadeira
enciclopédia de rock. Através de sete álbuns, ele construiu uma obra tão
sólida e tão representativa da cultura norte-americana quanto os mais
clássicos autores de todos os tempos.
Suas canções reabilitam a simplicidade e a sinceridade do rock falando de
coisas reais. iluminando o dia-a-dia com histórias sobre desemprego. amor,
carros envenenados. prisioneiros e sonhadores. Mas o principal atributo de
Bruce talvez seja sua humildade: ou melhor, a perspectiva clara que mantém
sobre si mesmo, sua carreira e seu público. Embora tenha sido apelidado há
anos de The Boss (O Chefão), Bruce permanece o mesmo garotão boa-praça do
interior de Nova Jérsei que pula pro meio da platéia durante os shows e canta
suas musicas abraçando (ou no colo de) seus fãs. Mesmo que ele seja capaz de
roubar o show de qualquer superestrela, Bruce continua sendo o moleque cujo
grande amor sempre foi o rock and roll.
O Bruce Springsteen, que se tornou a estreia máxima do disco e do clip "We Are
the World" pela mera força de um curto solo, não difere muito do meninote cuja
primeira namorada foi um violão de 18 dólares dado pelo pai motorista de
ônibus na abatida cidade de Freenold em Nova Jérsei. O Bruce capaz de vender
mais de seis milhões de cópias de seu novo álbum, Born in the USA., é
basicamente o mesmo que grudava os ouvidos no rádio de sua casa para aumentar
o repertório das muitas bandas que formou durante sua adolescência - The
Castiles, Steel Mill e Dr. Zoom and the Sonic Boom são algumas de suas
criações.
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Matéria mostra a trajetória do cantor até o sucesso mundial com o disco Born in the U.S.A. |
Não importa que Bruce seja um seguro campeão de bilheteria - seus dois últimos
shows no estádio de Wembley, na Inglaterra, ocasionaram uma avalanche inédita
de mais de um milhão de pedidos de ingressos. Ele faz cada show como se fosse
o único de sua vida e faz com que cada pessoa do público sinta-se como se
aquele show estivesse sendo feito exclusivamente para ela. Se existe um tal de
"verdadeiro espírito do rock and roll", talvez ele realmente se chame Bruce
Springsteen.
1985. Foram adicionados músculos ao antigo visual magriço. Antes um quase
rumor, ele hoje é uma unanimidade nacional. Springsteen atingiu um nível de
sucesso comercial e prestígio crítico tamanho que foi promovido a símbolo
americano, tão venerado quanto um John Wayne, tão respeitado quanto um
Gershwin. Esqueça Prince, esqueça Michael Jackson, esqueça Madonna - para
citar apenas três estrelas de magnitude máxima na constelação-rock
norte-americana. Bruce não é apenas um astro - durante a campanha presidencial
do ano passado, o presidente dos EUA, Ronald Reagan, usou frases de
Springsteen para consubstanciar sua retórica eleitoral (e, mais tarde, foi
desautorizado pelo próprio Chefão).
Bruce não é apenas um mito - os mitos são bonecos inacessíveis, irreais,
maiores do que a própria vida, enquanto Bruce faz questão de continuar sendo
um cara como qualquer outro, ligado a seu público e à sua comunidade (até hoje
é comum vê-lo pintar de surpresa num clubinho míxuruca e tocar de graça por
simples prazer). Mais do que um artista de rock, Bruce é o último herói
americano.
Abaixo estão as outras duas capas da Bizz com o cantor:
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