quarta-feira, janeiro 18, 2017

Bruce dá receita de como ser uma estrela do rock

Quer ser uma estrela do rock? Bruce Springsteen pode te ensinar o caminho. Em “Born to Run – Autobiografia”, o músico usa boa parte das quase 500 páginas do livro para contar como arquitetou sua trajetória na música a fim de evitar o destino que lhe parecia inevitável: ser mais um operário na decadente área industrial dos subúrbios de New Jersey.

Com método e obstinação, Bruce se tornou um dos maiores astros do rock com mais de 120 milhões de discos, tem seu nome no Hall da Fama do Rock, vários Grammys e um Oscar em cima da lareira.

Bruce fala com detalhes sobre todos os seus discos, as situações de fato e as afetivas que o levaram a compor suas canções e também como ele arregimentou a E- Street Band, sua famosa banda de apoio, num texto que ao mesmo tempo que é bem humorado, também tem um ar de manual. Veja abaixo cinco lições da cartilha do “The Boss” para fazer uma carreira de sucesso no rock ‘n roll:

1- Democracia atrapalha. O chefe decide tudo.

Quando decidiu deixar a sua promissora banda Steel Mill para investir em sua carreira solo, Bruce tomou a decisão de formar a melhor banda possível para acompanhá-lo, mas também decidiu que dali em diante ele daria a última palavra sobre tudo.

“Se me competia carregar às costas o trabalho e a responsabilidade, melhor seria assumir o poder...Criei um ditadura benevolente e esclarecida; tudo o que contribuísse para a nossa criatividade era bem vindo, mas só o meu nome aparecia nos cartazes e nos álbuns. Quando aparecessem os problemas, também cairiam sobre mim”.

Foi dentro desta estrutura que ele criou a E-Street Band, a banda que o acompanha há 45 anos com poucas mudanças, ainda que Bruce não tenha hesitado em desligar amigos de infância da banda quando as coisas começavam a dar errado.

2 - Escreva músicas sobre a vida que você conhece.

Bruce conta que usou a guitarra para fugir da rotina que consumiu a vida de seu pai: operário industrial das 08 às 18h de segunda a sábado. Nas horas de folga, cerveja até desmaiar. Bruce não chegou a encarar a rotina das fábricas. Aos 15 anos, já tocava em bandas e aos 19, vivia de música, tocando no grupo Steel Mill, grande nome da cena local. Bruce, porém, conhecia bem de perto este “blues operário” pela experiência de seu pai, suas irmãs e amigos.

Foi escrevendo sobre este universo e influenciando por Bob Dylan, Van Morrison, Woody Guthrie e pelo blues que ele se tornou a voz da classe operária no inicio dos anos 1970. ”Queria ser uma voz que refletisse a minha experiência e o mundo em que vivia”. Assim surgiram músicas como “Growing Up” e “Born to Run”.

3 - Pratique obsessivamente o seu instrumento.

Bruce Springsteen tinha sete anos e estava em frente a tevê quando Elvis Presley se apresentou no programa de Ed Sullivan, na televisão americana em 1956.

No livro, ele usa um capítulo inteiro para definir a experiência que define como o “big bang”: o evento que fez o universo expandir. Sete anos depois, quando os Beatles tocaram no mesmo programa de tevê, Bruce decidiu que seria um guitarrista principal que escreve as próprias canções. Trabalhou em jardins de sua vizinhança e vendeu uma velha mesa de sinuca para comprar a sua primeira guitarra, uma Kent de 35 dólares.

Ele chegou a montar uma banda com colegas, mas foi expulso por que sua guitarra era “ruim demais”.

“Nessa noite em casa, coloquei o segundo álbum dos Stones para tocar e aprendi sozinho o solo de Keith Richards em “It’s All Over Now”. Demorei um pouco, mas cheguei a uma versão razoável. Nos anos seguintes pratiquei até não poder mais, passando todas as horas livres com a minha Kent, puxando e torturando suas cordas até que elas arrebentassem ou até que eu adormecesse na cama agarrado a ela”.

4 - Caia na estrada, suba no palco e dê tudo de si.

Até estourar com o álbum “Born to Run” em 1975, ser apontado na capa das revistas Time e Newsweek como o “nova sensação do rock”, Bruce, então com 26 anos, tinha passado os últimos dez tocando praticamente todas as noites. Antes de se tornar uma estrela era comum em sua rotina viajar milhares de quilômetros para tocar para três pessoas em botecos vagabundos, viver com 15 dólares por semana na espera de algum dia uma gravadora fosse se interessar por seu material. Foi nestas andanças que Bruce formatou sua performance agressiva.

“Em geral as condições eram horríveis, mas comparadas com o quê? O motel de estrada mais fuleiro estava um nível acima da minha casa. Tinha 22 anos e ganhava a vida tocando música. Deixei suor suficiente por palcos de todo para encher pelo menos um dos sete mares; levei a minha banda e a mim mesmo ao limite e pulei sobre um precipício por mais de quarenta anos”.

5 - Leia seus contratos antes de assiná-los (ou mostre a alguém que entenda o que está escrito).

Para Bruce Springsteen, o sucesso veio antes do dinheiro. Quando ele assinou seu contrato para gravar seus primeiros discos na Atlantic Records, seu empresário Mike Appel, que tinha uma lábia “capaz de convencer Jesus a descer da cruz”, fez Bruce entregar seu patrimônio ao empresário, assinando um contrato sem ler.


Na época, ao assinar ele pensou “Não tenho nada a perder, se funcionar só tenho a ganhar”. Mas não foi bem assim. Quando seus discos começaram a vender aos milhões, Mike ficou com a maior parte da bolada e Bruce precisou entrar na Justiça e fazer uma acordo milionário para ficar com o direito de suas músicas editadas.

Durante o processo judicial, Bruce lembra de ter pensado: “quando isso tudo acabar, se eu perder e ficar sem nada, continuo podendo me jogar de paraquedas com a minha guitarra em qualquer lugar e vou caminhar até o bar de beira de estrada mais próximo, montar um banda e dar algum brilho à noite de quem estiver lá. Por que é simplesmente isso que consigo fazer”.

No fim, a coisa deu certo. No fim da turnê de “Born in The Usa” (em 1986) ele ganhou uma “quantidade obscena de dinheiro”.

Fonte: Matéria escrita por Sandro Moser e publicada originalmente no dia 5 de janeiro de 2017 no jornal A Gazeta do Povo (PR)

quarta-feira, outubro 19, 2016

Bruce divulga sua autobiografia

Bruce Springsteen busca na literatura uma “honestidade” que não alcança na música. O músico participou em outubro de 2016 de um encontro com jornalistas em Londres para falar de Born to Run, sua autobiografia de quase 600 páginas. Springsteen, de 67 anos, chegou ao Instituto de Arte Contemporânea da capital britânica vestindo uma jaqueta de couro preto de aspecto roqueiro, mas brincou que para a ocasião havia trazido óculos para ver de perto que facilitariam sua leitura.

O cantor e compositor admitiu estar mais acostumado a concertos em grandes estádios do que ao recolhimento de escrever memórias, um trabalho que lhe tomou sete anos. "Não há ninguém para aplaudir quando você acaba de escrever", disse, sorrindo. "Muitas das minhas canções, incluindo aquelas que as pessoas creem que são muito pessoais, como no álbum Tunnel of Love, têm por detrás um trabalho de imaginação. Na realidade, me meti nos sapatos de outro e imaginei como seria sua vida", relatou.

"Há uma grande diferença. Bob é certamente um poeta. Eu sou um viajante que trabalha duro", disse Springsteen sobre o Nobel para Dylan "Inventei muitas coisas para as minhas canções", confessou. No livro, por outro lado, Springsteen desenvolve aspectos tão privados como o orgulho que sua mãe sente de sua carreira, apesar de começar a sofrer do mal de Alzheimer, e como ele teve que aprender a tratar seus filhos ante a falta de uma referência adequada no próprio pai.

"Escrever foi uma oportunidade para entrar em mais detalhes na complexidade das relações pessoais. Certamente, pude fazer isso com meu pai, cuja vida foi muito mais complicada do que retratei por meio da música", afirmou.



Entre as influências literárias que inspiraram sua escrita nos últimos anos, o músico citou Dostoiévski e Tolstói, em cujas obras encontra a "complexidade psicológica" que tratou de refletir nas memórias.

Ao relembrar sua infância, Springsteen reconheceu que sonhava em ser uma estrela do rock desde que tem memória. "Tinha a fantasia de que Mick Jagger ficava doente antes de um show em Asbury Park, e os Stones, claro, precisariam de mim para subir ao palco e tomar as rédeas", relatou entre risadas Springsteen, que cresceu em uma casa humilde em Nova Jersey.

O livro se aprofunda, entre outras questões, na educação religiosa que ele recebeu até os 13 anos e a influência que tiveram em suas criações conceitos católicos como "redenção" e "glória". Autobiografia do cantor foi lançada no Brasil pela Editora LeYa.

Fonte: Tradução Guilherme Sobota - O Estado de S. Paulo

Veja a seguir uma crítica sobre o livro feita pelo canal literário Las Hojas Muertas y Otras Hojas, com Nicolas Neves.



Veja a seguir uma entrevista do cantor para o programa PBS NewsHour, com Jeffrey Brown, apresentado no fim de 2016 durante a divulgação da autobiografia.