segunda-feira, novembro 20, 2017

Blinded By The Light

Para muitos fãs, o livro Springsteen: Blinded By The Light, dos autores Patrick Humphries e Chris Hunt, foi a porta de entrada para o universo musical do cantor.

Lançado em 1985, no auge da popularidade de Springsteen, o livro é uma pequena enciclopédia sobre a obra do músico.

Vale lembra que no meio da década de 1980, algo parecido com a internet era algo inimaginável para 99% da população do planeta Terra. Em resumo, os livros eram a maior fonte de informação das pessoas.

A publicação de Humphries e Hunt, a primeira sobre Bruce escrita por autores britânicos, é considerada até hoje, três décadas após seu lançamento, como uma referência entre os fãs do cantor.

Com 176 páginas, o livro traz, além de uma breve biografia sobre Bruce, centenas de dados sobre sua obra. O leitor encontra aqui uma seleção de LPs Bootleg (nome dado aos discos piratas na língua inglesa), um guia com dezenas de canções de outros artistas interpretadas por Bruce, uma compilação com todas as músicas compostas por ele - muitas delas nunca lançadas oficialmente em seus discos - e uma detalhada lista com todos os shows, participações em rádios e apresentações em TVs feitas por Bruce.

Esse livro tem um forte apelo emocional para mim. Foi o primeiro livro que comprei sobre Bruce.

Na época, eu era um adolescente recém-chegado ao mundo deste que seria, em breve, meu maior ídolo. Desde então, Bruce e o livro me acompanham.

Depois de 30 anos com esse livro "em mãos", posso dizer sem titubear que minha relação com a obra de Bruce não seria a mesma sem essa obra escrita por Patrick Humphries e o saudoso Chris Hunt, que morreu aos 66 anos, em 29 de maio de 2017.

O título do livro foi tirado de uma canção homônima do cantor, que está no seu primeiro disco Greetings from Asbury Park, N.J., lançado em 1973.

Blinded By The Light é a primeira faixa do disco e foi o primeiro single do cantor a ser oficialmente lançado. Em 1976, essa canção chegou ao topo das paradas dos EUA com a regravação do grupo Manfred Mann's Earth Band. Abaixo você escuta a versão do Manfred Mann e três versões diferentes cantadas por Bruce.



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sexta-feira, novembro 10, 2017

Bruce On Broadway

Bruce Springsteen mais uma vez deixa claro que não é uma lenda da música por acaso. Ao anunciar uma série de shows no Broadway, em um teatro para 960 espectadores, ele se expõe como artista, como pai de família, como marido, enfim, como um ser humano como todos nós.

Por cinco meses, até o dia 3 de fevereiro de 2018, de segunda a sexta, Bruce pode ser encontrado, no período noturno, no Walter Kerr Theatre, na cidade de Nova York.

Em entrevista ao jornal The New York Times, Bruce brincou que essa será a primeira vez na vida que terá um "emprego" com horário fixo.

Os ingressos para essa temporada têm sido disputados pela internet como se fosse um Santo Graal.

A possibilidade de ver o músico em um ambiente fechado e com uma plateia reduzida, além do charme que a Broadway proporciona a qualquer show, é uma oportunidade rara.

No decorrer de 40 anos de carreira, essa não é a primeira vez que o músico investe em um show solo. Isso aconteceu durante as turnês dos discos Ghost of Tom Joad e Devils & Dust. Na ocasião, os shows aconteceram em teatros com capacidade média de 3 mil lugares.

O show da Broadway lembra bastante a apresentação que Bruce fez no programa VH1 Storytellers, em 2005, no qual ele estava igualmente sozinho no palco, ora com o violão em punho ora no piano, e falava sobre suas composições e suas inspirações.


Ao The New York Times, refletindo sobre essa temporada na Broadway, Bruce disse que o público quer duas coisas. "Eles querem se sentir em casa e serem surpreendidos. E é isso que eu faço todas as vezes. Eu tento fazer com que a pessoa sinta que veio a um lugar que ele conhece a muito tempo. Então, eu tento surpreendê-los com novas histórias, novas formas, novas energias ou apenas um novo caminho para fazer alguma coisa".

Na foto ao lado, a cantora e mulher Patti Scialfa participa da apresentação. Patti faz duetos nas músicas "Tougher Than The Rest" e "Brilliant Disguise", ambas do disco Tunnel Of Love, de 1987.

Além da experiência única de poder ver Bruce tão intimamente, os shows da Broadway também são uma oportunidade de ouvir da boca do músico histórias sobre sua vida e sobre suas canções. Entre uma música e outra, Bruce, em formato de monólogo, "conversa com a plateia" e se despe ainda mais diante de uma plateia naturalmente entregue ao momento histórico no qual está vivendo.


Em seu artigo para o jornal Folha de S.Paulo, publicado em 17 de outubro, o escritor português João Pereira Coutinho conseguiu traduzir bem o sentimento de quem teve a sorte de poder assistir por duas horas Bruce na Broadway:

"Esse show ficará na galeria dos momentos épicos: em quase duas horas de conversa e música, não revisitamos apenas a vida de Bruce Springsteen. Pela sua voz, revisitamos os Estados Unidos — as suas paisagens grandiosas ou desoladas; as suas vitórias ou trágicas derrotas; a sua gente, as suas paixões, as suas ilusões. E, como acontece na grande arte, somos capazes de revisitar também as nossas próprias vidas, igualmente feitas de nostalgia infantil, amargura familiar, desejo de fuga e esquecimento. Mas também de sonho, de promessa, de liberdade. E de uma vontade estranha de regressar a casa e, como diria o poeta, conhecer o lugar como se fosse a primeira vez."

As palavras de Coutinho expressam o sentimentos de muitos fãs do cantor. Ao longo de quatro décadas, o público que o acompanha tem um vínculo que transcende a questão artística. A relação com um compositor que consegue manter seus pés no chão após tantos anos, que se expõe da maneira como ele se expõe, é quase um pacto de sangue, uma religião que ajuda você a continuar a viver, mesmo quando tudo parece não ter solução.