quarta-feira, novembro 06, 2019

Sai The E Street Band, entra The Other Band

O ano era 1989 e Bruce estava "adormecido" desde o fim da turnê Human Rights Now, em outubro de 1988. Meses antes, rumores falavam que o cantor estaria pronto para alçar novos voos e que isso não incluiria os velhos camaradas da The E Street Band.

E foi isso que aconteceu em outubro de 1989. O cantor ligou para os músicos de sua banda e disse que eles estavam livres para tocarem seus projetos pessoais, ou seja, estão dispensados temporariamente. Apesar de a porta ter ficado aberta, a notícia foi um baque para uma banda que o acompanhou por 15 anos.

Biógrafos apontam que, além do desgaste natural de uma relação duradoura, a decisão de Springsteen foi selada após o convívio com Peter Gabriel e Sting, durante a turnê Human Rights Now. O cantor teve a oportunidade de ver de perto como os dois conseguiram evoluir artisticamente após deixarem suas bandas, no caso, Sting deixou de ser o cantor do The Police e Peter Gabriel deixou de ser o cantor do Genesis. Após 15 anos no mesmo barco, era isso que o cantor procurava no fim da década de 1980. Queria conviver com outros músicos, ampliar seu repertório musical e se permitir viver uma outra realidade.

A década de 1990 mudou a vida do cantor. Não apenas como artista, mas na vida pessoal. No fim de 1988, Bruce se divorcia da modelo Julianne Phillips, após ser flagrado seminu na sacada de um hotel em Roma ao lado da então backing vocal de sua banda, a cantora Patti Scialfa. Dois anos após esta pulada de cerca, nasceu Evan James, primeiro filho do cantor com Patti. Eles oficializam a relação em junho de 1991, em uma cerimônia pequena no jardim de sua mansão em Beverly Hills, Los Angeles. Depois chegaram Jessica Rae, em dezembro de 1991, e Samuel Ryan, em janeiro de 1994.

Artisticamente, após um hiato de dois anos recluso, o cantor voltou a se apresentar no Shrine Auditorium, em Los Angeles, em novembro de 1990, em dois concertos beneficentes para o Christic Institute. Considerado até hoje uma das melhores apresentações de toda a sua carreira, os dois concertos trouxeram o cantor solo e acústico e um repertório com grandes clássicos, como "Darkness on the Edge of Town", "Thunder Road" e "Tenth Avenue Freeze-Out", além de cinco músicas inéditas que seriam lançadas nos discos Human Touch e Lucky Town, em março de 1992.


Fontayne, Alford, Bruce, Sims e Bittan

Após o lançamento dos álbuns, Bruce começou uma turnê com 107 shows. O ponta pé inicial foi em 15 de junho, em Estocolmo, na Suécia, e a despedida em 1 de junho de 1993, em Oslo, na Noruega. Desde o início da turnê, ficou evidente que a ausência da The E Street Band não seria esquecida, em especial o sax de Clarence Clemons, que tem momentos crucias em canções com "Jungleland", "Thunder Road", "The Promised Land" e "Dancing in the Dark".

Outro ponto marcante é o excesso das novas canções no setlist, afinal, Bruce tinha dois discos novos para divulgar. Com isso, os grandes hinos de sua carreira acabaram perdendo espaço. Logo no primeiro show, na Suécia, as novas composições de Springsteen tomaram quase todo o show. Das 26 músicas interpretadas, 16 faziam parte de Human Touch ou Lucky Town. É claro que isso não chegou a ser um problema, mas é inegável que a força da The E Street Band e o repertório antigo fizeram falta.

O site Guestpectacular, que traz estatísticas sobre turnês e setlist de milhares de artistas, consolidou os números do setlist tocado em Estocolmo, na primeira noite: 35,58% das músicas foram do disco Lucky Town, 26,9% do disco Human Touch, 23,05% do disco Born in the U.S.A., 3,84% do disco Darkness on the Edge of Town, 3,84% do disco Tunnel of Love, 3,84% do disco The River e 3,84% do disco The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle. Difícil acreditar em um show de Springsteen sem nenhuma música de Born to Run ou de Greetings from Asbury Park, N.J..

O que também chamou a atenção foi a falta de interação da nova banda, que ironicamente foi chamada pelo fãs mais antigos do cantor como The Other Band (A Outra Banda). Obviamente que isso aconteceria, afinal, tudo era novo para todos que estavam ali, ou seja, o público, Springsteen e os membros da banda. Por outro lado, o grupo nunca comprometeu a qualidade musical do show. A banda formada por Zach Alford (bateria), Tommy Sims (baixo), Shayne Fontayne (baixo), Crystal Taliaferro (multi-instrumentista) e os cantores Bobby King, Carol Dennis, Cleo Kennedy, Gia Ciambotti e Angel Rogers fizeram um belo trabalho ao substituírem músicos que tocaram "a vida toda" com Springsteen.

A presença do veterano Roy Bittan no piano, único membro da antiga banda de Bruce que participou desta turnê, foi importante para o som da banda e, em especial, para Springsteen. Durante os shows, em várias músicas, Bruce e o professor Bittan ficavam sozinhos no palco para tocarem, em versões acústicas, clássicos como "Thunder Road" e "Growin' Up".

Também ficou evidente, com o passar dos shows, uma maior vibração e energia da banda. A cada nova apresentação, Bruce e a banda ficavam mais soltos e ficava evidente a alegria do cantor em tocar com novos músicos e, assim, escrever uma nova história em sua carreira.


Uma boa amostra desta época ficou registrada no vídeo "Leap of Faith", que traz uma bela edição de imagens desta turnê, com Springsteen interagindo com a banda e o público, lembrando os velhos tempos com a The E Street Band. Bruce também gravou com essa banda o programa MTV Plugged, que depois foi lançado em DVD e CD.

No repertório, novas canções como "Local Hero", "Man's Job", "My Beautiful Reward", "Roll of the Dices" e "Light of Day", esta última registrada em CD pela primeira vez. Bruce escreveu "Light of Day" para o filme homônimo (no Brasil o título é Luz da Fama) estrelado pela cantora Joan Jett e o ator Michael J. Fox, de 1987. O longa aconteceu durante a trilogia do filme De Volta Para o Futuro, estrelado por Fox. Mesmo assim, a história de dois irmãos (Jett e Fox) que tentam fazer carreira como astros de rock não fez sucesso, deixando a canção de Springsteen adormecida por anos.

Após o fim da turnê, a banda foi dissolvida e Bruce só voltaria ao noticiário no início de 1994, com as premiações no Globo de Ouro e Oscar da música "Streets Of Philadelphia", do filme Filadélfia. No início de 1995, após 7 anos, Bruce reencontra a The E Street Band para gravar músicas inéditas para a coletânea Greatest Hits.

Em 2019, o site oficial do cantor lançou para download o áudio do show gravado em 25 de julho de 1992, em Meadowlands Arena, em East Rutherford, em Nova Jersey. Com 30 canções, o show contou ainda com a participação de Patti Scialfa nas músicas “Brilliant Disguise” e “Tougher Than The Rest”.











sexta-feira, outubro 11, 2019

Covers: o álbum que nunca existirá

Fazer covers é uma forma de homenagear um artista, mas também uma maneira do próprio músico se desafiar. Mexer em uma composição alheia é como cutucar um vespeiro. Você sempre será picado, neste caso, vai receber uma enxurrada de críticas afirmando que sua versão não presta.

Mas isso nunca impediu os músicos de se arriscarem no terreno minado das versões. Temos exemplos de álbuns completos, são eles:

Still the Same... Great Rock Classics of Our Time, de Rod Stewart;
Twelve, de Patti Smith;
Rock Swings (On The Wild Side Of Swing), de Paul Young
;
The Spaghetti Incident? do Guns N' Roses;
Rock Swings, de Paul Anka;
Holding Back the Years, de Jinny Smith;
Ridin High, de Robert Palmer;
As Time Goes By, de Bryan Ferry;
Inspiration, de Yngwie Malmsteen;
Blues and Lonesome, dos Rolling Stones;
From the Cradle, de Eric Clapton;
Garage Inc., do Metallica. Going Back, de Phil Collins

Isso sem falar em discos tributos como:

Two Rooms: Celebrating the Songs of Elton John & Bernie Taupin;
Stoned Immaculate: The Music of the Doors;
Red Hot + Blue, com músicas de Cole Porter;
Red Hot + Rhapsody, com músicas de George Gershwin;
It's Now or Never: The Tribute to Elvis Presley;
Not Fade Away: Remembering Buddy Holly;
Stone Free: A Tribute to Jimi Hendrix;
Chimes of Freedom, com músicas de Bob Dylan;
A Tribute To Curtis Mayfield;
Famous Blue Raincoat: The Songs Of Leonard Cohen, de Jennifer Warnes;
The Bridge: A Tribute To Neil Young;
If I Were A Carpenter;
No Prima Donna: The Songs Of Van Morrison;
For the Masses - A Tribute to Depeche Mode;
Beat The Retreat: Songs By Richard Thompson;
Encomium: A Tribute To Led Zeppelin;
Chuck B Covered: A Tribute To Chuck Berry;
Working Class Hero: A Tribute to John Lennon;
Return Of The Grievous Angel: A Tribute To Gram Parsons;
Let The Good Times Roll: The Music Of Louis Jordan, de B.B. King;
Timeless, com músicas de Hank Williams;
Crazy Legs, de Jeff Beck, com músicas de Gene Vincent and the Blue Caps;
Enjoy Every Sandwich: The Songs Of Warren Zevon;
Killer Queen: A Tribute To Queen;
A Tribute To Joni Mitchell;
Here We Go Again: Celebrating The Genius Of Ray Charles, com Willie Nelson, Wynton Marsalis e Norah Jones;
Looking Into You: A Tribute To Jackson Browne;
Nat “King” Cole & Me, de Gregory Porter;
One Amazing Night, com músicas de Burt Bacharach;
We Love Ella! A Tribute To The First Lady Of Song, com músicas de Ella Fitzgerald;
The Breeze: An Appreciation of JJ Cale, de Eric Clapton;
Muddy Water Blues: A Tribute to Muddy Waters, de Paul Rodgers;
Deadicated: A Tribute to the Grateful Dead;
We're a Happy Family: A Tribute to Ramones;
Meets the Beatles, de John Pizzarelli.
A Very Special Christmas, com canções de Natal;

E não podemos esquecer de álbuns de duetos, como Duets I & II, de Frank Sinatra, Deuces Wild, de B.B. King, Duets I & II, de Tony Bennett, The 30th Anniversary Concert Celebration, de Bob Dylan, Genius Loves Company, de Ray Charles, The Glory of Gershwin, de Larry Adler e One More For The Road, de Toots Thielemans.

Bruce raramente grava canções de outros músicos, as exceções foram os discos We Shall Overcome: The Seeger Sessions e High Hopes. Além de versões ao vivo de "War", "Jersey Girl", "Raise Your Hands", lançadas na caixa "Live/1975–85". Bruce também gravou "Viva Las Vegas", de Elvis Presley, e participou de álbuns tributos a Johnny Cash e Curtis Mayfield, por exemplo. Mais recentemente, durante seus shows, fez versões de "Purple Rain", de Prince, "Jump", Van Halen, "Highway to Hell", do AC/DC, "Stayin' Alive", do Bee Gees, "Don't Change", do INXS, e, até mesmo, "Sociedade Alternativa", de Raul Seixas.

Além das belíssimas versões de "I Hung My Head", composta por Sting, que Bruce cantou em homenagem ao cantor na entrega do Kennedy Center Honors, em 2014, "Angel Eyes", gravada por Frank Sinatra, que o cantor interpretou em 1995, durante uma homenagem aos 80 anos de vida de Sinatra, "Chimes of Freedom", de Bob Dylan, que Bruce interpretou durante a turnê Human Rights Now, em 1988, e "Twist and Shout", dos Beatles.

Pois bem, fica aqui um desafio. Qual música você gostaria que Bruce regravasse em um álbum apenas de covers? Para facilitar sua vida, escolha 3 músicas que você sempre quis ouvir na voz de Bruce e executada com a The E Street Band. Mãos à obra e comece a queimar seus neurônios. No meu caso, abaixo, criei um disco completo. Mas você pode ficar com apenas 3 músicas se quiser.

As minhas são:

"L.A. Woman", do The Doors
"Sunday Bloody Sunday", do U2
"Power of Love", do Huey Lewis and The News
"Summer of 69", de Bryan Adams
"Dead Man's Party", de Oingo Boingo
"Summertime Blues", de Eddie Cochran
"People Have the Power", de Patti Smith
"Back on the Chain Gang", de The Pretenders
"I Believe in Miracle", do Ramones
"People Get Ready", de Curtis Mayfield
"Back in the High Life Again", de Steve Winwood
"Shout", de Tears for Fears