quarta-feira, setembro 05, 2018

Bruce e seus chapas

A identidade musical de cada músico é muito particular. Cada um tem sua maneira de compor, de cantar e de se posicionar diante de seus fãs e das mais diferentes questões que pairam sobre a sociedade.

A empatia entre músicos e uma possível colaboração entre eles é algo que pode acontecer a qualquer um e a qualquer momento.

As causas dessa aproximação têm em seu cerne, além da inquietação natural de todos os músicos, os princípios que cada um traz consigo, fruto de sua formação familiar, intelectual e, obviamente, da sua trajetória ao longo de sua carreira e de sua vida.

Bruce tem "escolhido" esses parceiros nas últimas quatro décadas. Seu engajamento em diferentes causas o levaram a compartilhar gravações e o palco com diversos músicos. Mas, acima de afinidades musicais, a onipresença de três músicos chama a atenção dos fãs mais antigos do cantor.

Billy Joel, Sting e Bono Vox, três nomes que dispensam apresentação. Um americano do Bronx (Joel), um britânico de Wallsend (Sting) e um irlandês de Dublin (Bono).

Com idades similares, Joel nasceu em 49, Sting em 51, Bono em 60, e Bruce em 49, eles cresceram em épocas parecidas e nutrem uma paixão em comum, a música, apesar de nunca terem gravado juntos.

A amizade de Bruce com cada um deles pode ser comprovada no decorrer dos anos. Talvez a mais forte seja com Sting. Esse vínculo ficou mais forte em 1988, quando eles se uniram para participar da turnê Human Rights Now, patrocinada pela Anistia Internacional.

Durante 45 dias, ao lado de Tracy Chapman, Peter Gabriel e Youssou N'dour, eles viajaram pelos seis continentes - incluindo a América do Sul - levando a mensagem de um mundo sem tortura, sem guerra e mais harmônico.

A turnê desembarcou no Brasil em outubro de 1988. Durantes os shows, Bruce e Sting cantaram em dueto as canções "Every Breath You Take" e "The River".

Em 2009, durante a cerimônia do Kennedy Centre Honours, no qual Bruce foi homenageado, vários artistas interpretaram canções de Bruce, entre eles Eddie Vedder, Melissa etheridge, Ben Happer e Sting, que interpretou "The Rising".

Em 2011, na comemoração do aniversário de 60 anos de Sting, que aconteceu no Beacon Theater, em Nova York, Bruce contou duas músicas: “I Hung my Head” e "Fields of Gold".

Em 2013, Sting participa de outra homenagem a Bruce, desta vez no MusiCares Person of the Year, prêmio concedido pelo Grammy a grandes nomes da música. Na ocasião, Sting interpretou "Lonesome Day". Em 2014 foi a vez de Sting ser homenageado no Kennedy Centre Honours. Para interpretar algumas canções de Sting foram escalados nomes como Bruno Mars, Lady Gaga e Esperanza Spalding. Bruce cantou “I Hung my Head”.

A relação com Billy Joel pode não ter sido tão intensa, mas os dois tem em comum sua paixão pelos Estados Unidos e pela região de Nova York. Bruce é reconhecidamente um observador da realidade norte-americana. Já Joel sempre demostrou sua paixão pelo país por meio de suas canções.

A música mais notória é "New York State Of Mind". É exatamente essa música que Bruce cantou com Joel no show que comemorou os 25 anos do Rock & Roll Hall Of Fame, em 2009, no Madison Square Garden, em Nova York. Os dois também interpretaram "Born To Run".


Vale lembrar que Bruce e Billy também se encontraram no histórico projeto denominado USA For África ( na foto acima Bruce, Michael Jackson e Billy Joel durante a gravação). Em 1985, grandes nomes da música norte-americana, comandados pelo músico Quincy Jones, gravaram a canção "We Are The World", composta por Lionel Richie e Michael Jackson.

Além de Springsteen, Joel, Richie e Jackson, nomes como Tina Turner, Ray Charles, Bob Dylan, Diana Ross e Stevie Wonder soltaram a voz em solidariedade ao continente africano. Toda a venda do disco foi revertida para combater a fome na África.

Em junho de 2018, Joel foi escalado para entregar o Tony especial a Bruce por sua temporada na Broadway com o show Springsteen On Broadway. Um mês mais tarde, Bruce e Billy mais uma vez se encontraram no palco.

Em ocasião da 100 apresentação de Joel no Madison Squared Garden - Joel tocou pela primeira vez aqui em dezembro de 1978 -, Bruce subiu ao palco para compartilhar duas de suas mais importantes músicas com Joel: "Tenth Avenue Freeze-Out" e "Born To Run".


Bruce recebe de Billy Joel o Tony especial por seu show Springsteen On Broadway

Parafraseando Bruce, Last but not least, a história com Bono Vox, vocalista do U2, também demostra a admiração mútua. Engajados em diferentes causas humanitárias, Bruce e Bono participaram ativamente dos concertos pró Anistia Internacional.

Apesar de não terem excursionado juntos - como aconteceu com Sting - Bono também usou seu talento e notoriedade para levar a mensagem da Anistia.

Mas os dois dividiram o palco pela primeira vez em 1987, durante a turnê do disco The Joshua Tree, na Filadelfia. Eles interpretaram o clássico "Stand By Me", de Ben E. King.

Em 1985 aconteceu a primeira "parceria" entre Bruce e Bono. Idealizado pelo guitarrista Steven Van Zandt, o projeto Sun City reuniu dezenas de músicos para chamar a atenção contra o apartheid, regime de segregação racial na África do Sul.

Denominado Artists United Against Apartheid, o grupo contava com nomes do quilate de Miles Davis, Lou Reed, Bob Dylan, Bonnie Raitt, George Clinton, Ringo Star e Bobby Womack.

Mas a cumplicidade entre ambos ficou explicita durante a cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame. Bruce entrou para esse seleto clube em 1999. Como de costume, um orador é escalado para falar sobre o músico homenageado.

Em 1999, coube a Bono a honraria de falar sobre Bruce. Cinco anos mais tarde, em 2005, foi a vez de Bruce fazer o discurso e dar boas-vindas ao U2, que a partir deste ano também entrou para o Rock and Roll Hall of Fame. Durante a cerimônia de 2005, além do discurso, Bruce tocou "I Still Haven't Found What I'm Looking For".

Os caminhos de Bruce e Bono voltam a se cruzar em 2009, durante as comemorações de 25 anos do Rock & Roll Hall Of Fame, no Madison Square Garden. Ambos dividiram o palco com a cantora Patti Smith durante a música "Because The Night". Em seguida, Bruce cantou "I Still Haven't Found What I'm Looking For" ao lado do quarteto irlandês.

Mais recentemente, no dia 20 de maio de 2016, em Dublin, na Irlanda, Bono foi o convidado surpresa na música "Because Te Night", durante a The River Tour, que comemorou os 35 anos do lançamento do disco The River. Foi uma "retribuição" de Bono. Em 2015, foi Bruce que invadiu o palco do U2 no Madison Square Garden, em Nova York. Na ocasião, o U2 fechava uma temporada de 8 shows no Madison.

É claro que Bruce mantém amizades musicais estreitas com outros músicos, além de Joel, Sting e Bono. Nomes como Neil Young, Eddie Vedder, Bob Seger, Patti Smith, Jackson Browne e Paul McCartney também fazem parte do ciclo de amizade de Bruce.


Bruce e Sting cantam a música "The River", em outubro de 1988, na Argentina.











terça-feira, agosto 28, 2018

Um Emmy a caminho.....

Bruce Springsteen está filmando seu espetáculo na Broadway e ele será lançado como especial pela Netflix em 15 de dezembro, o dia de sua última apresentação no palco.

Convidados especiais foram ao teatro para assistir a dois shows adicionais nesta semana e as câmeras registraram as apresentações.

"Springsteen on Broadway", que está em cartaz desde outubro de 2016 no Walter Kerr Theater, na cidade de Nova York, é um show de duas horas no qual Springsteen reflete sobre sua carreira e intercala versões enxutas de algumas de suas canções mais populares e histórias sobre sua vida, adaptadas de "Born to Run", seu livro de memórias.

Ele se apresenta sozinho quase o tempo todo —se acompanhando ao piano, violão e gaita —, mas conta com os vocais de apoio de sua mulher, Patti Scialfa, em algumas canções.

O espetáculo vem sendo um imenso sucesso financeiro, com um preço médio de cerca de US$ 510 (cerca de R$ 1.962) por ingresso — esse é o valor oficial; algumas pessoas pagam mais quando compram de revendedores).

Até o dia 15 de julho, o show já havia faturado US$ 76 milhões e assistido por 151.549 pessoas, em 160 apresentações. Springsteen em geral faz quatro ou cinco apresentações por semana — ante as oito apresentações de outras produções da Broadway — e já folgou por diversas semanas.



O espetáculo interessa aos fãs porque lhes dá a rara oportunidade de ver um dos cantores e compositores mais populares do país em um ambiente bem mais íntimo que o dos estádios em que ele costuma tocar.

Depois de estender a temporada do show três vezes, Springsteen anunciou que a última apresentação acontecerá em 15 de dezembro — quando ele terá feito o espetáculo 236 vezes.

As críticas ao show vêm sendo muito positivas, e Springsteen recebeu um prêmio Tony especial neste ano, para honrar seu trabalho. Ele optou por não participar das categorias competitivas da premiação; posicionou-se como inelegível ao não convidar os 840 eleitores do Tony para assistir ao espetáculo.

Um especial de televisão bem recebido poderia fazer de Springsteen um dos poucos artistas a conseguir um EGOT — um Emmy, um Grammy, um Oscar e um Tony. No grupo, há Whoopi Goldberg, Audrey Hepburn, Quincy Jones, Mel Brooks, John Legend, Andrew Lloyd Webber e Tim Rice.

Ele ganhou o Oscar em 1994 por sua canção "Streets of Philadelphia", para o filme"Filadélfia", e já recebeu 20 Grammy; só lhe falta um Emmy para completar a coleção.

Por Michael Paulson (The New York Times) /Tradução de Paulo Migliacci

Matéria publicada originalmente no jornal Folha de S.Paulo, em 20 de julho de 2018