quarta-feira, agosto 07, 2019

Tracks

Além de ser um músico perfeccionista, Bruce Springsteen também é um compositor compulsivo. Sempre que vai gravar um novo disco, ele tem em mãos material para gravar quatro álbuns. Apesar de já ter declarado que passa de tempos em tempos por um período de total "falta de criatividade", é sabido que Bruce é um dos compositores mais talentosos e produtivos de sua geração.

Isso fica claro no número de músicas não oficiais do cantor que podemos encontrar na internet. Além disso, Bruce também lançou no decorrer da carreira discos oficiais com músicas que sobraram das gravações de seus álbuns. Entre esses lançamentos está a caixa de quatro CDs Tracks, lançada em novembro de 1998, com 66 músicas "inéditas".

Para o fã de carteira, a caixa não trazia apenas músicas inéditas, já que muitas delas circulavam por aí em discos não oficiais, em shows do cantor ou como lado b de singles oficialmente lançados por Springsteen, como é o caso de "Be True (1979)", "Pink Cadillac (1983)" e "Janey Don’t You Lose Heart (1983)". Mas a caixa foi apresentada para os fãs quase como um tesouro arqueológico, com dezenas de canções nunca antes lançadas pelo cantor, abrangendo gravações entre 1972 e 1995.


Capa da caixa Tracks, com 66 gravações inéditas do cantor


O fato é que a caixa traz belas canções e temas que fica difícil acreditar que foram descartados dos discos oficiais. Mas um dos motivos para esse descarte em massa, além da produção compulsiva do cantor, é a era do vinil. Quem tem menos de 30 anos pode não lembrar, mas os discos de vinil tinham uma limitação de tamanho.

Dificilmente conseguia-se colocar mais de 10 músicas em dois lados de um vinil. Isso obrigava os artistas da diminuírem o número de músicas ou o tamanho das músicas. A decisão de lançar um disco duplo tinha que ser muito bem pensada e, na maioria das vezes, por uma questão comercial, normalmente era descartada.

Diante disso, Bruce acabou com um acervo enorme de canções que foram gravadas durante as sessões de gravações de seus discos, mas que ficaram hibernando por décadas. O grande valor da caixa Tracks é exatamente tirar essas canções do anonimato. Segundo o comunicado na época do lançamento, Bruce e o engenheiro de som Toby Scott começaram a selecionar as músicas para a caixa dentro de um universo de 350 canções.

Entre as preciosidades encontradas aqui estão quatro canções tocadas por Bruce para o produtor da Columbia Records John Hammond (foto ao lado). "Mary Queen of Arkansas", "It’s Hard to Be a Saint in the City", "Growin’ Up" e "Does This Bus Stop at 82nd Street?" foram interpretadas apenas com voz e violão no dia 3 de maio de 1972, no estúdios da CBS, na cidade de New York.

O teste diante do homem que descobriu Bob Dylan e Billie Holiday foi conseguido pelo então mentor de Springsteen, o produtor Mike Appel.

Essas gravações são a prova viva do nascimento de Bruce como um cantor profissional. Um ano depois, essas quatro músicas fizeram parte do primeiro disco de Springsteen lançado pela CBS: Greetings from Asbury Park, N.J..

Todas as fases da carreira da cantor estão contemplas aqui. Você encontra temas como "Thundercrack (1973)", "Give the Girl a Kiss (1977)", "I Wanna Be With You (1979)", "Restless Nights (1980), "My Love Will Not Let You Down", "Cynthia (1983)", "Rockaway the Days (1984)", "Luckyman (1987)", "Seven Angels (1990)", "Goin’ Cali (1991) e "Back in Your Arms (1995)".

Algumas dessas, até hoje, 20 anos depois de se tornarem oficiais, se tornaram temas queridos pelos fãs, como "My Love Will Not Let You Down", que Bruce tocava na início dos shows da turnê Reunion, em 2000, e "Thundercrack", uma das canções mais interessantes do início da carreira de Bruce.


Parte interna da caixa com 4 CDs


Um ano após a caixa ser lançada, um disco simples chamado 18 Tracks (foto abaixo), com um resumo das 66 canções chegou ao mercado, A novidade, além de ser uma coletânea da coletânea, eram três canções inéditas que "não couberam" na caixa de 4 CDs. São elas: "Trouble River", "The Fever" e "The Promise", essa última regravada em 1999, exclusivamente para esse CD.

Vale lembrar que em 2010, quando o cantor lançou a caixa comemorativa do disco Darkness on the Edge of Town, o CD The Promise, que faz parte da caixa, mas que também foi vendido separadamente, trazia 21 canções inéditas, todas sobra de estúdio da época do disco Darkness.

O mesmo aconteceu com a caixa The Ties That Bind (2015), que trazia restos de estúdio das gravações do disco The River.

Agora, diante dos 35 anos do lançamento de Born in the U.S.A. (1984), em 2019, fala-se de uma nova caixa comemorativa com dezenas de músicas "abandonadas" por Bruce durante as gravações deste disco. Por enquanto é apenas especulação, mas diante do número de canções ainda guardadas no cofre do cantor, não é muito difícil de acreditar que mais tesouros ainda estão por vir.

Para saber todos os detalhes sobre Tracks, clique aqui e acesse o especial produzido pela revista Backstreets sobre a caixa. Os editores Erik Flannigan e Christopher Phillips comentam faixa a faixa e ainda incluem observações do próprio Springsteen retiradas de um entrevista da cantor na revista britânica Mojo. O texto está em inglês e foi originalmente lançado com a edição 61 da revista, em 1998.

AS 66 MÚSICAS

Mary Queen of Arkansas
It's Hard to Be a Saint in the City
Growin' Up
Does This Bus Stop at 82nd Street?
Bishop Danced
Santa Ana
Seaside Bar Song
Zero and Blind Terry
Linda Let Me Be the One
Thundercrack
Rendezvous
Give the Girl a Kiss
Iceman
Bring on the Night
So Young and in Love
Hearts of Stone
Don't Look Back
Restless Nights
A Good Man Is Hard to Find (Pittsburgh)
Roulette
Dollhouse
Where the Bands Are
Loose Ends
Living on the Edge of the World
Wages of Sin
Take 'Em As They Come
Be True
Ricky Wants a Man of Her Own
I Wanna Be with You
Mary Lou
Stolen Car
Born in the U.S.A
Johnny Bye-Bye
Shut Out the Light
Cynthia
My Love Will Not Let You Down
This Hard Land
Frankie
TV Movie
Stand on It
Lion's Den
Car Wash
Rockaway the Days
Brothers Under the Bridges ('83)
Man at the Top
Pink Cadillac
Two for the Road
Janey Don't You Lose Heart
When You Need Me
The Wish
The Honeymooners
Lucky Man
Leavin' Train
Seven Angels
Gave It a Name
Sad Eyes
My Lover Man
Over the Rise
When the Lights Go Out
Loose Change
Trouble in Paradise
Happy
Part Man, Part Monkey
Goin' Cali
Back in Your Arms
Brothers Under the Bridge





































terça-feira, julho 30, 2019

Clarence Big Man Clemons

Para muitos, ele é o mais importante "sideman" da história do rock. Talvez esse rótulo seja um tanto exagerado, mas a figura do saxofonista Clarence Clemons na trajetória de Bruce Springsteen é indissociável, ou seja, é impossível pensar em Bruce sem lembrar de Clarence e vice-versa.

A história de Clarence com Bruce só foi interrompida com sua morte, em 18 de junho de 2011, quando o saxofonista morreu aos 69 anos de idade, vítima de complicações no pós-operatório surgidas depois de um acidente vascular cerebral. Por 40 anos, Clarence teve um papel importante dentro da The E Street Band e na sonoridade das músicas compostas por Springsteen.

O encontro dos dois aconteceu em 1971, quando Clarence e Bruce tocavam em diferentes bandas na região de Asbury Park, Nova Jersey. Na ocasião, Springsteen se apresentava com o nome de Bruce Springsteen Band e Clarence tocava com Norman Seldin And The Joyful Noyze. Em entrevista, Clarence disse que ao ouvir Bruce sabia que poderia contribuir com sua música e pediu para entrar na banda do cantor. Bruce, então, deixou o saxofonista à vontade. Naquele exato momento, nascia uma das mais duradouras parcerias da história do rock.

Clarence foi definitivo na sonoridade do primeiro disco de Springsteen, Greetings From Asbury Park, NJ (1973)”. Suas frases inspiradas na música "Spirit in the Night" são, até hoje, uma marca registrada do saxofonista. E a presença de Clarence continuou fundamental nos dois próximos discos: The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle (1973), com temas como "Rosalita" e "New York City Serenade", e Born to Run (1975), álbum que tirou Bruce definitivamente do anonimato.


Bruce e Clarence na icônica capa do disco Born to Run, de 1975

Born to Run também trazia Clarence na capa, ao lado de Springsteen, além da música "Jungleland", com o solo de saxofone mais memorável de toda a trajetória do saxofonista com Springsteen. São quase dois minutos de um solo marcante e que toca com profundidade a alma de quem escuta.

Por décadas, Clarence foi o principal coadjuvante nos concertos do cantor. Como o próprio Sprigsteen declarou, sua relação com o saxofonista no palco é fundamental. O contraponto, as histórias divididas com o público, a presença física de Clarence sempre estiveram presentes em cada apresentação do cantor. Isso sem falar em todos os nomes que Springsteen usava para apresentar o Big Man durante seus concertos, entre eles, Master of Disaster, the Minister of Soul, the Duke of Paducah, the Emperor of E Street e the King of the World.

O sax de Clarence está em quase todos os clássicos do cantor. Ouça "Born to Run", "Thunder Road", "The Promise Land", "Badlands", "Night", "The Ties That Bind", "Tenth Avenue Freeze-Out", "Dancing in the Dark" e "Bobby Jean". O som de Clarence arremata as composições de uma maneira única.

Paralelamente ao seu trabalho com a The E Street Band, o saxofonista gravou com grandes nomes da música norte-americana, entre eles, Aretha Franklin, Jackson Browne, Joe Cocker, Lady Gaga, Gloria Estefan e Ringo Starr. Com Ringo, o saxofonista participou da primeira formação dos All Starr Band, ao lado do guitarrista Nils Lofgren.


Clarence e Bruce tocaram juntos por 40 anos

Clarence também lançou discos solos, com destaque para Hero (1985), que trazia a música "You're A Friend Of Mine", dueto com Jakcson Browne e na bateria Narada Michael Walden, além de Peacemaker (1995) e Rescue (1983). Com Bruce, o último disco completo que gravou foi Working on a Dream (2009). No álbum Wrecking Ball (2012), Clarence aparece em apenas duas faixas.

A última gravação oficial de Clarence foi no disco da cantora Lady Gaga. O clipe da música "The Edge of Glory", que faz parte do disco Born This Way, tem a participação do saxofonista. Ao lado de Gaga, Clarence fez sua última apresentação ao vivo, durante a final do programa American Idol, em maio de 2011.

Com Bruce, o saxofonista tocou pela última vez no dia 7 de dezembro de 2010, no The Carousel, em Asbury Park, Nova Jersey, para uma plateia com menos de 100 pessoas. A íntegra desta apresentação saiu no DVD The Promise: The Making of Darkness On The Edge of Town. Após a morte de Clarence, seu sobrinho Jake Clemons assumiu o saxofone na The E Street Band.


Os dois se encontram pela primeira vez em 1971, em Asbury Park


Em 2019, o documentário Clarence Clemons: Who Do I Think I Am mostra um outro lado do músico. Dirigido por Nick Mead, ele acompanha o saxofonista em uma viagem à China, em 2003, para se encontrar espiritualmente. Além disso, há depoimentos de Vini Lopez, Nils Lofgren, Joe Walsh, Norman Seldin e do ex-presidente Bill Clinton.

Clarence & Jackson Browne



Clarence & Aretha Franklin



Clarence tocando "Jungleland", em 2000



Clarence toca "Night", em 2002



Clarence tocando "Spirit in the Night", em 1978



Clarence tocando "Tenth Avenue Freeze-Out", em 1975



Clarence tocando "The Promised Land", em 2002



Clarence tocando "Thunder Road", em 1979, no concerto No Nukes, em Nova York



Bruce fala sobre Clarence na cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame



Clarence entrevista no Late Show, com David Letterman



Música de disco solo de Clarence



Música de disco solo de Clarence



Clarence e Lady Gaga



Última aparição de Clarence com Springsteen (2010)



Clarence tocando "Jungleland", em 1980



Música do disco solo Hero (1985)



Documentário com 4h de duração



Trailers do documentário Who Do I Think I Am